Por Marcie Grynblat Pellicano |
Decidi ir para a Europa daqui a um ano.
Sei que é pouco tempo para preparar tudo, mas vou tentar. Já comecei a comprar 100 dólares por mês no câmbio negro. E outra coisa que eu descobri é que você pode pode mandar 300 dólares por mês para um banco que esteja no seu roteiro, pedindo que eles mantenham a quantia até sua chegada. Já mandei para Lisboa, Madri e Paris. A única coisa chata é que eles pagam na moeda do país. Se sobrar dinheiro de um país para o outro, você tem que fazer câmbio, sempre perdendo alguma coisa. Mas com o limite ridículo para a compra de dólar oficial que a ditadura, quer dizer, que o governo impôs, não existe outra saída.
Bom, a passagem eu também já comecei a ver. Fui até a Casa Faro, na Avenida São Luís, e comecei a montar um roteiro. A boa notícia é que você pode comprar o ticket mais ou menos num sistema de consórcio: quer dizer, vai pagando por mês até completar o valor. Quando completar, eles lhe entregam aquele calhamaço lindo de passagens: quatro ou cinco páginas para cada escala que você fizer. E uma amiga me falou que a gente precisa tomar o maior cuidado: se o funcionário do aeroporto destacar a página errada, você pode ter muito problema. Bom, mas isso não vai acontecer comigo, não é?
Agora preciso começar a ver os hotéis e o que eu pretendo fazer em cada uma das cidades. Vou percorrer os consulados aqui em São Paulo e pedir informação. Muitos deles são bastante organizados: fornecem guias, folhetos, mapas, etc. Outros deixam muito a desejar: a única coisa que você consegue são cópias xerox com um mínimo de informação. Mas tenho que me virar com isso. E depois gastar uma nota preta com fax e telefone para fazer as reservas. Mas a coisa pior é não saber o que me espera: por exemplo, chegar lá e encontrar um muquifo! Deus me ajude!
Mas vamos falar de coisa boa. Resolvi, e já disse pra moça da loja, que só viajo com a Varig. Minha amiga (ela de novo) falou que é o máximo. Claro que ela foi de classe econômica, mas tratada a pão-de-ló. Pra começar, uma bolsinha com escova e pasta de dente, lencinho, creminho. Um charme! Depois, bebida da boa e à vontade. Cardápio com vários pratos. E, o que eu achei o máximo, talheres de verdade! E depois do jantar, olha que incrível!, eles passam um filme! Para quem quer dormir é ruim, porque o barulho é como se você estivesse no cinema. Mas para quem quer estar acordado, é um programão. E o tempo passa sem você perceber. Minha amiga (olha ela de novo) teve que fazer escala em Casablanca, mas o meu vôo já é direto. Falei da comida na classe econômica, mas não posso deixar de mencionar o cardápio da 1a. classe: caviar à vontade e, em alguns vôos, churrasco no espeto! Como é que eles fazem, eu não sei. Mas espero que não tenha fumaça, pois já bastam as fileiras de fumantes. Tomara que eu sente longe deles!
Ah, ainda não falei de mala. Como pretendo ficar 30 dias, não vai ser pequena e vai dar um trabalhão. Quando é que vão inventar um método mais fácil de carregar mala?!
Que mais eu estou esquecendo? Sim, máquina fotográfica! Estou levando uma Kodak Instamatic e vários filmes de 100 e 500 ASA. Ainda não sei se revelo lá mesmo ou se trago os rolinhos pra revelar aqui.
Bom, até agora só falei de coisas práticas, mas tem uma questão emocional que me preocupa: a saudade que eu vou ter. Claro que vou escrever uma carta de cada país em que eu passar. Mas vou querer telefonar também. Sei que vou perder muito tempo com isso (as telefonistas demoram horas para completar uma ligação internacional) mas não vai ter jeito. Dois ou três minutos por semana, eu vou falar. E não interessa quanto custe!
Eu poderia continuar, mas acho que já deu para passar a ideia. Assim, prezado leitor, sem tirar nem pôr (rimou), era como se viajava algumas poucas décadas atrás. Uma época sem internet, com a telefonia na pré-história, a aviação internacional apenas decolando, e a indústria hoteleira ainda andando de gatinhas. Agora faça um fast forward: um mundo globalizado, aviões avançadíssimos, hotéis saindo pelo ladrão e, principalmente, todo mundo conectado. A www de fato mudou tudo. E, de quebra, criou os blogs de viagem, uma mão na roda para quem esteja pensando em se deslocar no espaço. Parafraseando uma famosa campanha publicitária, eu diria: Blog de viagens. Não saia de casa sem eles.
Foto: Dreamstime
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Marcie Grynblat Pellicano é publicitária e mora há 10 anos em Nova York, onde tem uma empresa de eventos. Desde 2009 escreve o blog Abrindo o Bico, especializado na Big Apple.
Respostas de 21
Bárbaro, o texto! Lembrei do meu primeiro passaporte, da Década de 70, com o fatídico carimbo “Válido para todos os países, exceto para Cuba”. E do depósito compulsório, inventado na mesma época: o viajante tinha que entregar ao governo, por um ano, o mesmo valor gasto com a passagem.
Baita texto legal, adorei! Viajei pro passado com ele… sem querer sem saudosista, mas as viagens de antigamente eram um acontecimento, tinham todo este glamour, “andar de avião” era uma coisa chique rsrs… tenho um pouco de saudade sim destes tempos, principalmente quando a violência não fazia parte dos aeroportos. Por outro lado, acho bacana que hoje mais gente pode viajar! Beijos,
Genial Marcie
Na década de 90 quando víajamos para os EUA, era basicamente meu pai emitia a passagem de ida e volta,comprava Travel Cheques e dólares no negro, reservava a primeira noite de hotel e a última + o voucher do carro. No aeroporto na chegada comprava o mapa do AAA (American Automovel Association)
O restante parávamos nas rest áreas da Interstates e procurávamos os livrinhos de descontos dos Hotéis e Motéis.
Digamos que viajar era uma aventura, ficávamos quase 30 dias rodando pelos EUA, saudosos tempos.
@GusBelli
Uau! Adorei o texto, Marcie!
Nessa época quem planejava nossas viagens eram nossos pais, então foi legal saber como funcionava o processo!
Parabens pelo texto!
Beijos
Super texto! Nao tinha nem ideia de como era! Afinal, minha primeira viagem para a Europa foi em 2006.
É a Varig era a Varig!
Texto super descolado. Adorei! E foi muito bom “rever” através de suas palavras o quao era complicado e caro o ato de viajar “daquela época” – nao viajei na tal época mas trabalha com quem viajava e eu que cuidava de tudo 🙁
Parabéns
Adorei! E eu lembro que viajei de Varig, fui na agência e voltei com um calhamaço de papeis e fui lá na AMEX para comprar Travel Check…
Hoje o mundo ficou mais prático, graças a Deus – mas lembro como a gente ia sentindo já o gosto da viagem a cada papel (que eram vários) que a gente ia recebendo!).
Mas é verdade: Blogs de viagem, não saia de casa sem eles!
Amei, Marcie! <3
Nossa que texto gostoso de ler!
Lembro direitinho da minha primeira viagem internacional em 1997, com a Varig, que eu também achei o máximo o kit com escova de dentes e etc. E me senti uma superstar quando as aeromoças me levaram pra conhecer a cabine do piloto! hehehe
Eu era supeer criança e mesmo assim já percebo a diferença de como tudo mudou rápido! Caramba!
Amei o texto!
Recordei que na primeira vez que fui à Europa, não existia cartão de crédito internacional, levei o dinheiro contado na bolsinha que ficava presa à cintura. Foram quase 30 dias, sem seguro e apenas com uma mochila. Foi uma viagem maravilhosa.
Obrigada Marcie!
Que coisa linda! Emocionei!
Marcie, fantástico esse texto!!!! Realmente é difícil acreditar como o mundo mudou tanto em tão pouco tempo! A internet facilitou muito a vida dos viajantes independentes, mas os blogs de viagens são realmente a cereja do bolo. 🙂
Quando a gente lê, parece que já faz taaaaaanto tempo, coisa de outra era! Mas nem faz tanto assim, incrível como as coisas mudaram!!!
Lembro de fazer meu passaporte pelo correio e de gastar uma nota para ligar da Disney (Orlando) para matar as saudades de casa! Muito legal!!!
Mas ainda bem que hoje, temos tudo e mais um pouco mastigadinho nos blogs né?
Arrasou no post Marcie!
Beijão!!!
Muito bom! E as toalhas quentes da Varig? Eu ganhei um avião deles, o Varinguinho, Varinguinho… hahaha
Bjos
O saudosismo foi tanto que digitei Variguinho errado hahaha
Ah, queridona! E eu que ia sem hotel e quando chegava em cada cidade, ia ao ? e pedia indicações?
Já o guia, sempre comprei ???? Além claro, de colecionar os cadernos de viagens dos jornais ????
Bjks!
E pensar que euzinha já viajei assim!
Hahahaha! Que sensacional!!! Nossa, você era descolada, hein Ms. Pelican?
Nossa, que legal esse texto!
Me emocionei aqui lembrando.
Passou um filme na minha cabeça agora.
Lembro perfeitamente da bolsinha bege cheinha de coisas pra gente usar.
Acho até que ainda tenho uma guardada até hoje.
hehe
Muito bom!!
Tentei comentar um tempo atrás e sei lá pq não consegui. Mas lembrei muuuito de uma viagem pra California em 1995!!! Meus pais e amigos que iam junto mandavam a reserva pros hotéis por fax!!! E aí haja paciência pra esperar a resposta! aquela viagem de 1 mês foi fantástica mas realmente precisou de 1 ano pra ser planejada, isso pq a gente tava meio que copiando o roteiro de outros amigos! rs
Que divertido ler seu texto, Marcie! rsrs
Os tempos são outros, a tecnologia ajuda (ou nem tanto, dependendo do ponto de vista) mas a emoção das viagens continua a mesma. 🙂
Que legal o seu texto Marcie! É um barato ver como a internet facilitou tudo mesmo. Hoje em dia a gente procura hotéis pela internet e não faz reserva sem olhas as avaliações antes. E os mapas gigantes que a gente precisava usar? hah
Muito bom!