Blogs de viagem: como evitar clichês e escrever melhor

Blogueira - Como escrever melhor - Foto Je Shoots

Por Sílvia Oliveira

Não sou especialista em nada. Nunca consegui memorizar as regras do hífen. Tenho enorme dificuldade com crase e, de vez em quando, até derrapo em uma ou outra regrinha ortográfica. O debate aqui é mais amplo. Estamos falando da banalização ou do uso exagerado de certos termos nos textos de quem escreve sobre viagem.

Entendo que existem lugares tão improváveis e difíceis de apresentar que só nos resta  chamar alguns destinos de “surreal”. O detalhe é que você não foi o único a pensar neste adjetivo e o mundo passou a ser “surreal” do Atacama ao riozinho que passa no fundo da minha casa.

Se você já postou sobre Foz do Iguaçu não deve ter resistido ao “maior espetáculo da natureza”. Já de cima da Torre Eiffel ou de qualquer barranco com mais de um metro de altura todo mundo tem “uma vista de tirar o fôlego”.

Ao abrir um blog, seja lá sobre qual tema for, você deve saber que redigir é um exercício complexo. Demanda tempo, conhecimento gramatical, cultura geral e, principalmente, bom senso. Colocar adsense e dar Ctrl C + Ctrl V não é bem o trabalho do blogueiro que pretende se profissionalizar.

Muitos recorrem às frases prontas porque o clichê é um ser de natureza fácil. Bonitinho, mas ordinário como diriam os adeptos dos trocadilhos infames. O clichê parece um raio de inspiração divina. É só fechar os olhos que o “de comer de joelhos” aparece na tela do seu computador. Já percebeu que não existe mais comida ruim neste mundo, tudo agora é “de comer de joelhos”? Pastel, tapioca, buchada de bode, pudim, jiló…

Sem contar o “ótima pedida”. Descer rio em cima de boia é sempre “uma ótima pedida”. Pra quem?  pergunto.  Eu ainda prefiro o singelo “legal” ou o tradicional “bacana” para dizer que a sugestão vale a pena. Na verdade o terror já começa no perfil do blogueiro: “viajante apaixonado e psicólogo nas horas vagas” ou “viajante apaixonada e professora nas horas vagas” ou “viajante apaixonado e engenheiro nas horas vagas”. Em resumo, todo mundo vive na estrada e só trabalha de vez em quando.

E quando a gente resolve abraçar alguns títulos cafonas e passa a chamar Roma de “Cidade Eterna” e Curitiba de “Capital Ecológica”? Já reparou que todo Mercado Municipal tem uma enorme diversidade de “cores, aromas e sabores”? Aliás, deste último já fui partidária durante muito tempo.

O “despir-se de preconceitos” sempre aparece naquele passeio antropológico que você, na verdade, odiou – mas não tem coragem de dizer. E, portanto, acaba se agarrando ao clichê mais brega de todos os tempos.

3 dicas básicas para melhorar seu texto

Escreva como se você estivesse conversando

Não me parece provável que você responda: “nossa, um espetáculo da natureza”, quando alguém pergunta o que achou sobre aquele destino. É bem razoável que saia um “maravilhoso”, “inesquecível”, “sensacional”: são adjetivos mais honestos, pessoais e cotidianos.

Comece pelo mais importante, não pelo óbvio

Abrir seu texto sobre Ouro Preto dizendo “Fundada no século 18, a antiga Vila Rica…” — pronto, perdeu o leitor. Experimente fazer o primeiro parágrafo do seu post com alguma experiência, opinião ou impressão particular. Dados históricos e geográficos são importantes, mas amolam menos se forem encaixados lá pelo meio do artigo.

Equilibre o tamanho do seu post

Se sua história é muito comprida seria mais interessante dividir o texto em alguns capítulos ou série. Quanto mais longo for o artigo, mais confuso, cansativo —  e cheio de clichês — ele corre o risco de ficar.

O discurso do blogueiro ganhou espaço porque se trata de uma conversa ao pé do ouvido, é o leitor conversando diretamente com o dono do negócio — sem atravessadores. Faça valer seu posto-patrão e cuide do seu blog como se ele fosse sua empresa.

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Respostas de 46

  1. Sílvia!
    Que ótimo artigo, grandes dicas! Em alguns momentos dei risada, mas acho que de nervosa. Vou reler meus posts para ver se não estou escorregando muito… Afinal, não é porque não ganho nada com isso que vou despejar uns textos quaisquer por aí! Obrigada!

  2. Boa. E acrescentaria: use fotos.
    E comece escrevendo belas legendas para as imagens… até pq de vez em quando é só o que lemos, não? 🙂
    Dica de quem não tem blog de viagem – mas é viciado em Instagram.

      1. Pois é Silvia – o ponto é que boas legendas já podem ser o texto em sí. Digo… imagine que uma legenda possa ser um parágrafo, não 5 palavras! hehe

  3. Silvia.
    Minha reação foi a mesma da Pati, ri por alguns instantes e pensei ih acho que fiz isto.
    Obrigada pelas dicas.
    bjs
    Quenia

  4. Como aprediz de blogueiro quero te parabenizar pelo texto, em poucas palacras e muitas verdades você abriu os meus olhos para este trabalho que quero desenvolver com clareza e objetividade. Vamos Nessa!

  5. Que dicas legais, já vou dar uma revisada nos meus posts…..rsrsrsrs. Moro na Itália há muitos anos, e por isso muitas vezes faço confusão na hora de escrever em prtuguês, porque penso muito em italiano, e o fato dos dois idiomas serem parecidos, me cria alguns problemas. Mas adoro escrever meu blog, me da uma grande satisfação, então me esforço bastante, corrijo de lá e de quá, e no final da certo, apesar de escapar qualquer errinho as vezes, mas nada de grave.
    Estava na hora de existir uma associação de blogueiros brasileiros, e fico feliz que tenha sido criada por pessoas tão capacitadas.
    Abraços e sucesso
    Damares

  6. Boa Silvia. Como leitora, redatora e blogueira amadora, me irritam os clichês. Além dos por voc~e citados, tem um que me faz parar de ler o texto na hora: praia paradisíaca. Argh!

  7. Parabéns pela abbv!

    Silvia, eu acho que o seu texto é inteligentes e bem fundamentado. Você escreve tão bem (é justo dizer-lo)

  8. Eu tento não usar os clichês tb, até porque quando alguém procura informação num blog quer mais é “ouvir” uma opinião diferente. Então, prefiro dar as minhas impressões do que as que já estão por aí.
    Parabéns pelo texto!
    Lilian

    P.S.: Ah, só pra ajudar: valer a pena não tem crase. A expressão usa a palavra pena no sentido de castigo, punição. Então, qd vc diz que valeu a pena quer dizer que valeu o sacrifício.

  9. Amei o texto e confesso que como blogueira iniciante fico me policiando para nao cair nesse lema de clichê. Outra coisa que me preocupa é o caráter inovador, como sigo dicas do Riq Freire, você, Mari Campos e outros já consolidados, tenho medo de o texto sair apenas uma cópia, por isso deixo claro logo que segui a dica de vocês e aí sim dou minhas impressões. Texto bíblia, gente, como evitar sendo eu uma tagarela?

    Em tempos, estou orgulhosíssima pela iniciativa da Associação. Abraços,

  10. Um perigo esses clichês!
    Eu confesso, com tantos adolescentes a minha volta, fico caindo nessa armadilha de vez em quando… (shame on me!).
    Vou aumentar a “patrulha”.
    😉 Ótimo texto!

      1. Hahaha! Eu adoro comparar um destino com outro, às vezes fazendo troça. Sempre digo um absurdo ao meu marido pra gente rir um pouco durante as viagens… Na primeira vez que estive em BUE, comparei a Rua Florida com a Rua Guilherme Rocha, uma “peatonal” do centro daqui de Fortaleza de-to-na-da. #ohwait

  11. Oi Silvia, eu tinha certeza que você não sabia que eu te acompanho desde o Matraqueando, pois é, a internet nos manteve em contato.Obrigado pelas dicas, sou estreante como editor de blog e ainda mais quando o assunto é gastronomia, mas faço o possível.Beijo enorme!

    Daniel

  12. Ola Silvia, adorei as dicas, concordo plenamente. Eu vajo muito e adoro escrever, a coisa mais dificil do mundo é quando peço para alguém me ajudar com algum artigo e vejo frases que não significam muito ou que não descrevem de verdade o que o leitor ira ver caso va até o local indicado. Abraços

  13. Direto ao ponto, Silvia! O clichê é a fórmula mágica da esmagadora maioria da Humanidade. Se eu fosse desabafar aqui e antes dos clichês, começaria por dizer que me sinto esmagado pelos “à”s. Todo o mundo vai à Brasília, à São Paulo, à Roma, à Paris, e eu aqui, rrrrangendo os dentes.

    Em minhas mais recentes visitas ao Brasil (já faz um ano), subia as paredes quando ouvia “diferenciado”. Prometi não voltar enquanto estiverem usando o termo para tudo e qualquer coisa. Parece que mudou; agora é “surreal”. Não querem que eu volte…

    Entretanto, faço um paralelo com gerações anteriores, que insistiam em conservar certos costumes aos quais nós, geração seguinte, resistíamos. No Brasil de décadas atrás, as classes mais afortunadas economicamente achavam que escrever relativamente bem era prerrogativa delas, com algumas exceções. A desigualdade continua, ainda que um pouquinho menos do que há 50 anos. No entanto, observo que aqueles que antes se colocavam nos píncaros do conhecimento não só escrevem de maneira sofrível, mas também ficaram de fora nessa brutal transição por que passamos, desde os anos 90.

    Não sei onde irá parar o “escrever bem”. Naturalmente, sentirei falta se continuar a tendência, mas conheço vários blogs muito bem escritos, sobretudo aqueles mais pessoais. Digo mais: os blogs são muito melhores do que as revistas e jornais impressos.

    A linguagem passa por transformações. Nossos avós não escreveriam como nós, nem expressariam o que hoje fazemos, sem cerimônia e em público. Torço pela sua depuração e por um esforço permanente em aperfeiçoar o melhor recurso de que dispomos para distinguir-nos.

    Enquanto isso, meus dentes sofrerão a cada vez que me depare com “à”s fora de lugar, diferenciados e surreais.

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